sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Arquivos do Futmesa Brasileiro (4)

Décourt por Décourt
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Geraldo Cardoso Décourt, "O Papa do futmesa brasileiro"
Ano passado, quando comemoramos os 100 anos do nascimento de Geraldo Cardoso Décourt, “O Papa do futebol de mesa brasileiro", publicamos uma matéria em sua homenagem onde, além da sua importância histórica para o futmesa brasileiro, contamos um pouco sobre sua vida, especialmente de seu envolvimento com as artes. Décourt foi escritor, pintor, compositor e até se arriscou como ator de cinema, revelando toda sua genialidade.

Hoje, dando continuidade a nossas publicações nos “Arquivos do Futmesa Brasileiro”, diretamente do acervo de Adauto Sambaquy, queremos apresentar uma autobiografia de Décourt onde ele nos revela um pouco mais sobre sua belíssima história.

Este documento, uma breve autobiografia, foi escrito por Décourt a pedido de seu amigo Pedro Luiz Junqueira, editor do informativo botonístico: “Técnicos e Botões” da Associação Galáxia Petlem da cidade de São Paulo. O texto aqui transcrito não sofreu nenhuma correção, ou seja, é o original, literalmente escrito por Décourt:

Honra-me ainda uma vez, o caro irmão Pedro Luiz com o gentil convite de historias nesta página – onde vários colegas já o fizeram com a humildade dos autênticos botonistas – um pouco do que tenho feito pelo Futebol de Botões, ex-Celotex, futebol em miniatura, hoje popularizado em definitivo como Futebol de Mesa. Antes de penetrar na “área” do roteiro habitual seguida nesta página de honra (biografia) desejo agradecer a deferência que me está sendo concedida, bem como todas as referências já feitas a minha pessoa no T & B extensiva aos bondosos irmãos já entrevistados!


Nascido em 14/02/1911, por mercê de Deus, em Campinas, mudei-me para o Rio de Janeiro com dois anos onde, em 1922, fiquei conhecendo Higino Mangini e seu irmão Francisco, que me ensinaram o futebol de botões, tendo jogado pela primeira vez, na escadaria da Rua Visconde de Paranaguá, onde eu morava no nº 40 antes de possuir minha primeira mesa envernizada e fizemos os primeiros campeonatos em 1922 com Mario Salorenzo, José da Silva, Rudolf Langer (que deve ter levado o futebol de botões para a Áustria), Oscar Vieira e Jaime Ferraz. Higino Mangini faleceu por volta de 1927 e foi o meu mestre. Até hoje já dei o seu nome numa merecida homenagem por duas vezes: uma em Porto Alegre por volta de 1946, promovendo um Campeonato Aberto com a cobertura da Folha da Tarde (inscreveram-se cerca de 400 botonistas) e agora na AREA com a vitória de Hideo Ue Fº, no primeiro torneio interno de três toques promovido pelo Grêmio de Flávio Ferraz. No mesmo torneio de Porto Alegre, homenageei com um troféu para o vice, meu ex-colega de Rio de Janeiro, Carlos Hélio Portugal da Cunha, por volta de 1930, já na época do Celotex (com bola esférica) no campo dos irmãos Soares da Rocha, onde Portugal da Cunha jogando com perfeição e lealdade impediu-me de ser tri-campeão carioca, vencendo-me de uns 3 a 1, se não me falha a memória! Boa época aquela!

Décourt com o grande companheiro Della Torre

Nesta minha passagem pela vida (que espero que não seja a última) morei no Rio uns 30 anos, 5 no Rio Grande do Sul, casei-me em 1947 em Vitória (ES), onde já joguei diversas vezes em épocas de férias, estou novamente em São Paulo desde 1948.

Fiz parte da extinta Federação Paulista de Futebol de Mesa, quando presidente, meu amigo Decio Zuccaro, jogando no Grêmio Dramático Luzo-Brasileiro, em 1964, quando conheci Luiz Gonçalves da Silva, Flávio S. Ferraz e Roberto Milagres (estes dois últimos hoje na AREA) onde conheci também, Newton de Andrade (que joga com argolas) e Carlos Casal Del Rey (que tinha seus estádios com 4 refletores)! Enfim, difícil relembrar tanta coisa de tanta gente!...

Quero deixar bem claro que embora fizesse sozinho por volta de 1930 toda à cobertura jornalística em jornais como O Globo, A Batalha, Imparcial, A Noite, A Ordem, Diário de Noticias, Rio Sportivo, A Nação, e Revistas “Suplemente Esportivo de A Noite e o Cruzeiro” (na época da rotogravura) e A Gazeta daqui de São Paulo que ainda não tinha a Gazeta Esportiva, tive a honra de ser amigo de Thomaz Mazzoni e José de Moura, que nunca recusaram notícias de futebol Celotex e de vez em quando publicavam caricaturas minhas assinadas por Truoced (Décourt ao contrário) e na época de doença (tuberculose) que matou o meia Tatú, do Corinthians e Campeão Sul Americano de 1922 pelo Brasil, doei para uma campanha em seu benefício cem (100) exemplares de minhas regras!... Bem, queria dizer que NUNCA disse a quem quer que seja (em qualquer época) ter sido o inventor do futebol de botões, mas sim, autor da primeira Regra Impressa como CELOTEX e também nunca promovi Campeonato Sul Americano de Futebol de Botões...

Décourt com o amigo José Ricardo de Brasília

Em 1930, joguei sim uma partida com A. Santasusagna, uruguaio que me desafiou pela imprensa e consegui vencê-lo por 2 x 0. Este uruguaio ficou no Rio, montou um jornal que se chamava O FOOT-BALL, era vendido aos domingos à noite, tinha uma parte impressa e quatro colunas mimeografadas com os resultados dos jogos de futebol efetuados à tarde. Santasusagna depois vingou sua derrota num campeonato carioca, vencendo-me por 2 x 1, com duas bolas no cantinho do meu goleiro, daquelas que ultrapassam a linha de goal e param! Ainda estou vendo nitidamente na lembrança essas bolinhas (já esféricas) lá paradas!...

Recentemente tive duas gratas alegrias: visitando Santos e companhia de Hideo Ue Filho e Eliahou Vidal, por volta de Março ou Abril, conheci um senhor chamado Jurandir da Silva Marques, hoje com os seus 70 e tantos anos, que fez pequeno comício a respeito do que eu fui e fazia naquela época, citando clubes e locais onde me vira jogar, citando nomes de companheiros daquela época e etc. e agora me escreve do Rio, o irmão daquilo que resolvi denominar CONFRATERNARIA BOTONÍSTICA, senhor Getúlio Reis de Faria, diretor administrativo da Liga Carioca de Futebol de Mesa, está com 65 anos, com as mãos talvez menos trêmulas que as minhas e me relembra de minhas atividades de 1930 citando endereços completos dos locais onde joguei e com quem joguei. Comprou a minha regra IMPRESSA em uma banca de jornais do seu bairro que tentaram as traças e precisam ser substituídas! Com a minha sensibilidade de artista plástico não pude deixar de comover-me e... (pois é, homem também chora, sim senhor!...). Quero conhecê-lo! Já vivi momentos de emoção assim, com menos idade! Suportei bem! Certa vez, em Vitória (ES) quando em trabalho de seguros, fui apresentado por volta de 1942 a dois senhores que ao ouvirem o meu nome, indagaram se eu era aquele que em 1930 fora jogar futebol celotex em Niterói. Sim, respondi, como vocês lembram? Eram eles, Roberto Saleto e Gil Veloso (este último foi Deputado Federal pelo Espírito Santo, tendo falecido há poucos anos) e fiquei amigo de ambos, pois contaram-me que um irmão de Gil que era torcedor do Vasco da Gama do Rio, foi assistir a inauguração do estádio de São Januário e enquanto isso Veloso e Roberto Saleto foram me ver jogar botões em Niterói! E então, gente tenho ou não razões para me orgulhar de tanto que já fiz pelo futebol de mesa?

Décourt com os amigos no Botunice, clube que criou

Com Manezinho Araújo, hoje grande artista plástico, ex-cantor de emboladas, ex-proprietário dos restaurantes “Cabeça Chata” no Rio e em São Paulo, tivemos um papo curioso no Bar da Brahma, no Largo da Carioca, no Rio, por volta de 1935, quando saímos de um programa de Cesar Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga. Ele cantava e compunha emboladas. Eu cantava e compunha sambas. Perguntou-me ele: você era aquele Geraldo Décourt do Futebol Celotex, que tinha na Liga Pernambucana, na parede um retrato seu, uma foto recebendo um troféu e outra de sua linha atacante? Você conheceu Jota Soares, cineasta de Recife, presidente da Liga? – Sim, Manezinho. Não era não, SOU EU MESMO!... E então, gente?

Sim gente! Está chegando a minha HORA DE PARAR! O que FIZ, VALEU A PENA, pena por pena, devo parar brevemente, antes que os que olham para as minhas trêmulas com uma curiosidade imprópria de verdadeiros esportistas, venham a sentir PENA DE MIM ou julguem que sou um ridículo e teimoso botonista!

Quero PARAR SIM! Mas, antes vou me despedir aos poucos, jogando como comecei, sozinho contra equipes ou grupos daqueles que ainda me respeitam como ser humano! Enfim, uma despedida lenta, mas honrada pela estima de meus atuais amigos! Minha despedida não será comparada com as de Silvio Caldas, meu amigo, pois será feita “lentamente”! Acabar como COMECEI como será isso?

Vou explicar: Em 1930 quando fui a Niterói, enfrentei sozinho a equipe Liga Niteroiense de Futebol de Mesa, em forma de competição. Cada vitória marcava dois pontos e empate um ponto para cada lado. Quero me despedir sem esta fobia de contagem de pontos, mas enfrentando cada botonista em 5 minutos e abraçá-lo depois, para fazer o mesmo com o “próximo”.

Décourt batendo uma bolinha

Essa idéia não nasceu hoje, mas vem sendo amadurecida vivamente. Pretendi encerrar minha participação em Santos, entregando a minha camisa ao bom amigo José Francisco ferreira, meu último adversário em partida oficial, exatamente quando participava pela primeira e ultima vez das Integrações! Sentado num canto durante aquela competição, contive-me e achei o momento impróprio, pois não queria ser tomado por demagogo, erradamente! Conversando não sei com quem, sobre a minha estada no Rio, no Congresso. Lembrei-me do convite respeitosamente carinhoso e efetivo do Sérgio Netto, que me propôs jogasse com ele e o pessoal de Brasília, nem que fosse cinco minutos, sem contagem, apenas para sentirem o orgulho de terem jogado comigo! Não topei de pronto, pois estava em terra alheia!

Décourt e Della Torre com amigos no Botunice

Agora, sentindo-me cansado de tanta luta e sentindo a impropriedade de minha continuação e por que não dizer, sentindo que os tempos mudaram, estou decididamente desejoso de PARAR! Preciso pensar em termos definitivos em duas coisas: - Manter o meu BOTUNICE INFORMA (vejam bem, não é BOTUNICE EM FORMA pois ele está crescendo mais rapidamente que previa), refiro-me ao Tablóide Informativo, oneroso para ser mantido, e ou, prosseguir na idéia do meu livro "DEPOIMENTOS” (nome provisório), também de certo custo!

Acontece, porém, que olhando para muito atrás, constato que todas as dificuldades encontradas na trajetória já percorrida, venci grandes PARADAS (mais fora do que dentro das mesas), PAREI diversas vezes sem ter que pensar como AGORA, QUANDO ALIMENTO A ESPERANÇA DE parar de vez!  O problema é que quando a gente tem apenas alguns poucos AMIGOS a nossa volta, uma decisão de parar é tomada mais facilmente.


Quando iniciei essa série biográfica, que foi dividida por Pedro Luiz em partes, estávamos em princípios de agosto e... De lá para cá, muitas coisas aconteceram. O BOTUNICE INFORMA foi levando para mais longe, minhas idéias expostas detalhadamente e essa minha forma de ser, como homem de comunicação que SOU por lutar para CONSEGUIR SER, usando de franqueza e sinceridade, respeitosa e cuidadosamente, acolhedor, sorrindo quando posso e “brigão” (no bom sentido) quando necessário for, defensor zeloso da justiça, “catimbeiro” (por que não?) diante de certos “complicados” e “difíceis” colegas de metier (como os há em toda parte), passando de “Corujão 79” para “Raposão em 80” (apelido que me foi dado pelo meu amigo “Mingão”) e como “Bom Velhinho” como me consideram muitos e me “esclarece” o Atienza ser de forma carinhosa, enfim, por tudo isso, meu micromundo botonista vai por mercê de Deus agüentando a cada dia que passa, ampliando na mesma proporção minha dificuldade para programar a minha “retirada estratégica” conforme mencionei anteriormente!

Décourt entre os amigos Sambaquy e Pedro Luiz
Junqueira no II Torneio Pletem em 1981

PARADA DURA, ESSA MINHA NECESSIDADE DE PAPAR! No duro, no duro que não é fácil, não! Parece-me até que o Pedro Luiz, como amigo meu que é, me deu “corda” para que eu evoluísse em meus planos, usando de uma estratégia habilidosa e colocando-me frente a Frente Comigo Mesmo, pudesse sentir melhor sozinho que esta minha idéia de PARAR é... Uma “PARADA”! Bem, parar de jogar eu já estou parando (EMBORA ME MORDENDO DE VONTADE DE JOGAR...). Vamos combinar uma coisa: Vou PARAR DE FALAR NISSO AGORA por três razões principais: 1º - Meu encontro de “ouro” com Getúlio Reis de Faria, no Rio de Janeiro; 2º - Meu clube e meu jornal e... 3º - a formação de um clube, o UNIBOP – União de Botonistas Paulistas, que será formado logo que eu regresse do Rio de Janeiro, congregando um grupo de botonistas espalhados pelos diversos bairros de São Paulo, que lendo uma “mini-reportagem” inserida nos últimos dias nos jornais “SHOPPING NEWS, CITY NEWS e JORNAL DA SEMANA” entraram em contato comigo por telefone e pela “fome de bola” de todos e não havendo “vagas” no BOTUNICE que joga às 5ª feiras à noite, alugarei as 6ª feiras no mesmo local da AREA, para podermos nos organizar! Que DEUS NOS AJUDE.

Filhas de Décourt recebendo homenagem dos
100 anos de seu nascimento, ano passado

Confiram aqui no blog matéria: 100 Anos de Décourt no link:
http://afumeca.blogspot.com/2011/01/100-anos-de-decourt.html


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Arquivos do Futmesa Brasileiro (3)


Dossiê do Futmesa dos Anos 60

Conforme já publicamos, os anos de 1966 e 1967 foram marcantes para a mudança e evolução do futmesa brasileiro. Foi em 1966, naquele torneio de aniversário da Liga Caxiense, que os baianos Oldemar Seixas e Ademar Carvalho, convidados especiais para o evento, fizeram uma partida demonstrativa da Regra Baiana que agradou a todos os presentes. Os gaúchos, acostumados com os times formados por botões com cores e tamanhos diferentes, ficaram encantados com a padronização e personalização dos botões baianos. A partir daí surgiu a idéia de unificação das regras Gaúcha e Baiana, pelos então presidentes da Federação Rio-grandense e da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, Srs. Gilberto Ghizi e Adauto Sambaquy, respectivamente. Os dois passaram a estudar ambas as regras, capítulo por capítulo, tentando adequá-las para a unificação.

Ainda em dezembro deste ano, no congresso de abertura do Campeonato Estadual Gaúcho, em Caxias do Sul, Gilberto e Sambaquy apresentaram o projeto da nova regra a todos os participantes do campeonato que o aprovaram por unanimidade. Entre os participantes deste congresso estavam botonistas de expressão da época como Paulo Borges, Fausto Borges, Claudio Saraiva, Sergio Duro e Clair Marques.

Com a aprovação de todos, no mês seguinte, mais precisamente no dia oito de janeiro de 1967, Gilberto e Sambaquy foram para Salvador na Bahia, onde aconteceu a famosa reunião com a intenção de unificar as regras de futmesa praticadas principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba. Surgia então a atual “Regra Brasileira Um Toque Disco”. A comissão original da Regra Brasileira foi composta por Ademar Carvalho, Nelson Carvalho, Roberto Dartanhã e Oldemar Seixas, pela Bahia, Adauto Celso Sambaquy e Gilberto Ghizi pelo Rio Grande do Sul.

Foi a partir daí que se iniciou o processo de implantação da Regra Brasileira no Rio Grande do Sul e deu-se a ruptura com a Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa que não adotou a nova regra.

Estes fatos geraram uma série de dúvidas, questionamentos e até mesmo algumas “rixas” que, de certa forma, perduram até os dias de hoje, especialmente no círculo do futmesa gaúcho.

- Como explicar esta ruptura com FRFM que não aceitou a Regra Brasileira?

- Não era Gilberto Ghizi, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa?

- Não foi ele um dos autores do projeto e um dos criadores da Regra Brasileira?

Para responder estas perguntas, nada melhor do que o relato de pessoas que participaram ativamente deste processo. Em conversa com os amigos Adauto Sambaquy e Clair Marques conseguimos elucidar muitos fatos obscurecidos ao longo do tempo e que agora podem nos dar o entendimento necessário sobre o que realmente aconteceu.

Como e onde começou esta história?

Botões LIONE

Os Botões LIONE começaram a ser fabricados por Lenine Macedo de Souza, em 1962, quando o Rio Grande do Sul já era abastecido suficientemente pela grande Fábrica de Botões Puxadores Scharlau. A Scharlau fabricava puxadores para móveis e botões para futebol de mesa com “galalite” e chegou a produzir cerca de 300 botões de galalite por dia se tornando uma das maiores fábricas de botões de todos os tempos no Brasil. O galalite é um material obtido a partir da caseína (proteína do leite) com a adição de formol, corantes naturais, pó de osso e glicerina, que da uma qualidade muito especial aos botões. Dos puxadores para moveis da Scharlau e do pó de osso utilizado no galalite vem os nomes muito comumente utilizados para os botões: “botões puxadores” e “botões de osso”.  Os botões LIONE eram fabricados com uma matéria prima em pó, chamada “pelopas”, derivada do petróleo, e eram duros como os botões de acrílico e de paladon (também derivados de petróleo). Os botões de pelopas nunca conseguiram competir com os botões de galalite da Fábrica Scharlau, porque Lenine utilizou formas  térmicas industriais que não davam um bom acabamento aos botões. Normalmente os botões LIONE precisavam ser lixados e polidos antes de serem utilizados.

Exemplares de goleiro e botão LIONE, feitos de pelopás

Em virtude da batalha desigual contra a grandiosa Fábrica Scharlau e seus fabulosos botões de galalite, Lenine numa tentativa de reverter o quadro negativo da sua fábrica de botões LIONE, fabricava também outros materiais como fichas, bolinhas, goleiras, goleiros, mesas e os levava para demonstrações e venda em outros municípios. Nesta caminhada, em 1963, Lenine, então presidente da Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa, foi a Caxias do Sul fazer uma demonstração da sua regra e apresentação do seu material para prática do futmesa. O evento, que aconteceu no Recreio Guarany, reuniu um bom número de botonistas que passaram a contar com várias mesas e times de Lenine. Outras agremiações, especialmente bancárias, presentes ao evento, também adquiriram o material de Lenine. O representante da Associação Atlética Banco Brasil (AABB) Raymundo Antonio Rotta Vasques, adquiriu uma mesa e dois times de botões LIONE.


Adauto Sambaquy na sede da AABB de Caxias do Sul

Com a aquisição dos materiais de Lenine o futebol de mesa começou a se difundir de forma especial entre os bancários e em maio de 1963, realizou-se o I Campeonato dos Bancários organizado com a participação de adultos em Caxias do Sul. A competição foi organizada por Marcos Lisboa e aconteceu no Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul, cujo presidente era Dauro Brandão de Mello, gremista e aficionado pelo futmesa. Participaram dez técnicos representantes do Banco da Província, Banco do Estado do Rio Grande do Sul (hoje Banrisul), Sul Banco (depois Banco Sulbrasileiro e depois Banco Meridional), Banco Nacional do Comércio e Banco do Brasil, onde Sambaquy havia recentemente ingressado. Os três primeiros classificados foram representantes do Banco do Estado do Rio Grande do Sul: Marcos Lisboa, campeão, Renato Miller e Delesson Orengo, que ficaram empatados em segundo lugar. Adauto Celso Sambaquy, único representante do Banco do Brasil, ficou com a quarta colocação.

“Em 1963, quando eu comecei no Banco do Brasil e descobri que havia um departamento de futebol de mesa, lá estava uma mesa, fabricada pelo Lenine, e dois times de plástico de marca LIONE, um verde e um azul. Como eu tinha os meus puxadores, não jogaria com eles. Quem os utilizava era o Rubem Bergmann que  estava iniciando, apesar de já ser idoso na época.” (Sambaquy)

Em junho deste mesmo ano, também realizou-se I Campeonato Interno da AABB com a participação de onze botonistas. Sambaquy conquistou o título de campeão ficando Paulo Fabião em segundo, Ivan Mantovani em terceiro e Roberto Grazziotin em quarto.

Drauro Brandão de Mello

Finalmente em gosto, realizou-se o I Campeonato Caxiense de Futebol de Mesa, também no Sindicato dos Bancários. Marcos Lisboa sagrou-se campeão e Vanderlei Duarte vice-campeão. No ano seguinte, 1964, repetiu-se a mesma seqüência de campeonatos em Caxias do Sul, onde o futmesa começava a se desenvolver de forma fantástica. 

Liga Caxiense de Futebol de Mesa

Apesar do rápido crescimento do futmesa os caxienses ainda não eram convidados para participar dos campeonatos estaduais. Neste sentido, Sambaquy tomou a iniciativa de enviar uma carta para a Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa, e foi informado que para participar das competições oficiais seria necessário ter uma entidade caxiense filiada a FRFM. Em junho de 1965, Lenine Macedo de Souza, acompanhado dos botonistas Cláudio Saraiva e Renato Ramos, então presidente da FRFM, foram a Caxias do Sul passar orientações para efetivar a almejada filiação.

Foi assim que os caxienses, liderados por Adauto Celso Sambaquy, no dia 1° de julho de 1965, nas dependências do Diretório Acadêmico Amaro Cavalcanti, da Faculdade de Ciências Econômicas de Caxias do Sul, fundaram a Liga Caxiense de Futebol de Mesa. A primeira diretoria da Liga foi então eleita e ficou assim constituída: Presidente: Adauto Celso Sambaquy, Vice-presidente: Antonio Carlos Oliveira, 1º Secretário: Saul Henrique Vanelli, 2º Secretário: Deodato Maggi, 1º Tesoureiro: Delesson Orengo e 2º Tesoureiro: Sérgio Calegari.
A Liga Caxiense de Futebol de Mesa foi criada dentro da Regra Gaúcha, criada por Lenine Macedo de Souza.


Jonas, Ruaro, Agenor, Augusto, Peleti, Jorge Resnde, Sambaquy e Rudy
Vieira na sede do Vasco da Gama, hoje AFMA Caxias do Sul

No dia seguinte, em comemoração a criação da Liga, foi realizado o I Torneio Intermunicipal do Rio Grande do Sul. Nele apresentaram-se grandes nomes do futebol de mesa gaúcho, de Porto Alegre: Lenine Macedo de Souza, Carlos Saraiva (campeão gaúcho da época), Renato Ramos (então presidente da FRFM), Antonio Azevedo, Sérgio Duro e Gilberto Ghizzi; de Caxias do Sul: Marcos Lisboa, Vanderlei Duarte, Sérgio Calegari, Deodato Maggi, Raymundo Vasques e Adauto Sambaquy.

Ainda em 1965 a Liga Caxiense já enviou representantes para o Campeonato Estadual e conseguiu o vice-campeonato com Deodato Maggi, sendo Paulo Borges o campeão.

Torneio de I Aniversário da Liga Caxiense

Começa o ano de 1966 e Caxias do Sul surge como grande força do futmesa gaúcho. A fundação da Liga Caxiense e a conquista do vice-campeonato estadual colocam a cidade em posição de destaque no esporte a nível estadual. A FGFM elege Gilberto Ghizi como presidente que passa a dar créditos para a nova entidade do futmesa gaúcho.

Foi neste clima que em junho de 1966, comemorando seu primeiro aniversário, a Liga Caxiense, promoveu um torneio onde reuniu grandes botonistas do Rio Grande do Sul além dos baianos Oldemar Seixas e Ademar Carvalho, convidados especiais para o evento. Foi neste torneio, jogado na Regra Gaúcha, que o Rio Grande do Sul conheceu os botões padronizados, com as cores e distintivos dos clubes, utilizado pelos baianos. Ademar Carvalho, mesmo jogando em uma regra bem diferente da sua, acabou ficando com o vice-campeonato. Após o término do torneio os baianos fizeram uma demonstração da “Regra Baiana” em uma mesa especialmente construída para este fim e os gaúchos ficaram encantados com a beleza e plasticidade do que viram. O clima de interação dos gaúchos com os baianos foi tão grande que FRFM homenageou os convidados baianos com o primeiro e segundo “Botão de Ouro”, prêmio concedido na época somente a grandes personalidades do futmesa. A partir daí Ghizi e Sambaquy começaram a elaborar um anteprojeto de unificação das regras, estudando capítulo por capítulo, tentando ajustar o que, para eles,  havia de melhor em cada uma delas. 

“A Federação Rio-grandense elegeu Gilberto Ghizi como presidente. O Ghizi aproximou-se da Liga Caxiense, notando desde cedo o nosso valor. Nesse ano promovemos o torneio de primeiro aniversário da liga, e convidamos os botonistas de diversas cidades gaúchas. Convidamos também ao baiano Oldemar Seixas, com o qual mantínhamos correspondência. Para nossa surpresa Oldemar aceitou o convite e trouxe consigo Ademar Dias de Carvalho. Pediram os baianos que conseguíssemos para eles uma tábua de 2,20 x 1,60, lixas e sarrafos para as laterais. Queriam demonstrar o futebol de mesa que eles praticavam. O torneio de aniversário foi realizado na regra Gaúcha e foi emocionante até o final, pois Ademar Carvalho, com seus botões padronizados e bem maiores dos que os nossos chegou à final, perdendo por um lance infeliz, quando ao atrasar a bola ao goleiro, com o peso do botão, jogou goleiro e bolinha para dentro do gol. Ficou com o vice-campeonato, sobrepujando ícones da regra gaúcha. Após o encerramento e entrega dos troféus, os dois baianos fizeram uma demonstração do futebol praticado na boa terra. Não dá para descrever a admiração de que todos foram tomados. Ao ver dois times padronizados em campo, com jogadas executadas com precisão, todos manifestaram-se admirados. Isso chamou a atenção do Ghizi, e, em conversas, trocávamos idéias sobre uma regra que pudesse unir a nossa com a deles. Com a grande vantagem de todo nordeste do país estar jogando a regra baiana. Quem sabe, assim, poderíamos ter um campeonato brasileiro da modalidade. No restante do ano fomos alimentando a idéia e juntando partes, até que o Ghizi conseguiu um anteprojeto de uma regra que trazia muito da gaúcha e muito da baiana.” (Sambaquy)
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Campeonato Estadual Gaúcho de 1966
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O sucesso do torneio foi tão grande que Gilberto Ghizi solicitou que a Liga Caxiense organizasse o Campeonato Estadual de 1966 em Caxias do Sul. Sambaquy e sua equipe aceitaram o desafio e organizaram um campeonato impecável! Pela primeira vez a competição aconteceu em três categorias: infantil, juvenil e adulto. O campeonato aconteceu dia 22 de dezembro e os jogos aconteceram no Colégio do Carmo. O alojamento, gratuito, para todos os participantes foi no Seminário Diocesano de Caxias do Sul. A premiação dos campeões foi dobrada, pois a FGFM concedeu troféus para os campeões e a Liga Caxiense também premiou com troféus os campeões e vice-campeões de cada categoria.

Gilberto Ghizi Presidente da FRFM 66/67

O campeonato foi um sucesso! Sambaquy, responsável pela organização, também recebeu da FRFM o terceiro “Botão de Ouro”, das mãos de Paulo Borges e na presença de Gilberto Ghizi, em reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação ao esporte. Além dos caxienses, o torneio reuniu botonistas de Porto Alegre, Rio Grande, Arroio Grande, São Leopoldo e Rosário do Sul, entre eles: Carlos Saraiva, Fausto Borges, Paulo Borges, Cláudio Cavalcanti, Sérgio Duro, Sérgio Calegari, Clair Marques e Luiz Alberto Chiacchio. O título da categoria adulto ficou para Carlos Saraiva de Porto Alegre e o vice-campeonato com Fausto Borges de São Leopoldo.

“Aceitamos a incumbência e nos colocamos em campo no sentido de realizarmos um grande campeonato. Combinei com o Ghizi que seriam disputadas três categorias: adulto, juvenil e infantil. E assim foi feito. Conseguimos o alojamento no Seminário Diocesano, pois os seminaristas estavam em férias e sobraram camas para todos os participantes do campeonato. Um restaurante em frente ao Colégio do Carmo fornecia a comida. Tudo pronto e o pessoal começa a chegar!” (Sambaquy)

Nesta foto tirada durante a cerimônia de premiação e encerramento do Campeonato Estadual Gaúcho de 1966, realizado em Caxias do Sul, algumas figuras importantes do futmesa estavam presentes e são identificadas pelo amigo Clair Marques:


“Eu sou o que esta no canto da mesa do lado esquerdo. O Sambaquy está bem no centro entre as duas janelas. O que está do lado esquerdo do Sambaquy, com rosto redondo e cara de chinês, é o meu bom amigo Paulo Borges, que era joalheiro em POA. Uma pessoa maravilhosa que gostaria muito de reencontrar. Mandou fazer o meu time bordô padronizado, de somente uma camada de 4 mm, com dois furos bem mo meio dos botões, pareciam mesmo grandes botões feitos de galalite, os cinco defensores eram maiores que os cinco atacantes. Foi um time inesquecível a Internazionale. Do lado direito do Sambaquy, pulando um dos componentes da foto, de camisa escura e sorrindo, é outro amigo chamado Gilberto Ghizi que era o presidente da FRFM. Na ponta do lado direito, de bigode e camisa branca, é o Sérgio Calegari, trabalhava junto com o Sambaquy no Banco do Brasil.” (Clair Marques)

Reunião de Abertura do Campeonato

Como até hoje é de costume, antes de iniciar a competição, realizou-se a reunião de abertura do campeonato. Esta reunião foi organizada e conduzida pelo presidente da Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa, Sr. Gilberto Ghizi e aconteceu no Seminário Diocesano de Caxias do Sul onde todos estavam hospedados. Ghizi apresentou o anteprojeto da nova regra a todos os participantes e sugeriu que o mesmo fosse levado para a Bahia para ser apresentado e avaliado, juntamente com os botonistas nordestinos, numa tentativa de unificação da regra, que possibilitaria a realização de competições nacionais. Como todos nutriam este sonho aprovaram por  unanimidade a proposta e autorizaram Gilberto Ghizi, como Presidente da FRFM e Adauto Sambaquy, como Presidente da Liga Caxiense, a levarem o anteprojeto para a Bahia.

“O próprio Ghizi, como maior autoridade da Federação fez a apresentação do protótipo da regra que levaríamos para a Bahia. A reunião foi realizada no Seminário Diocesano de Caxias, onde havíamos hospedados todos os participantes. Por isso,  toda a iniciativa coube à Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa, com o respaldo da Liga Caxiense de Futebol de Mesa.” (Sambaquy)

Reunião em Salvador

No dia 8 de janeiro de 1967, Gilberto Ghizi e Adauto Sambaquy iniciam uma verdadeira maratona em direção a Bahia para levar o anteprojeto da nova regra e tentar a almejada unificação do esporte a nível nacional.

“Ghizi saiu de Porto Alegre e eu de Caxias do Sul e, de ônibus, fomos a Salvador. De oito de janeiro até o dia 22, a maratona foi enorme. Várias noites ficávamos discutindo as possibilidades de unificação, com vistas a criação da regra e realização de campeonatos brasileiros.” (Sambaquy)

Chegando a Salvador, Ghizi e Sambaquy foram recebidos pelo amigo Oldemar Seixas e juntos formaram uma a comissão para definir a nova regra do futmesa brasileiro. Fizeram parte desta comissão: Ademar Carvalho, Nelson Carvalho, Roberto Dartanhã e Oldemar Seixas, pela Bahia, Adauto Celso Sambaquy e Gilberto Ghizi pelo Rio Grande do Sul.

Sambaquy, Oldemar e Ghizi na reunião em Salvador 1967

Foram três dias de reuniões na sede da Liga Baiana de Futebol de Mesa onde após a apresentação de Gilberto Ghizi houve apenas uma divergência para confecção da nova regra. Como havia uma proposta de redução do tamanho das mesas em relação à utilizada pelos baianos, eles sugeriram que, como os gaúchos, de qualquer forma, teriam que construir novas mesas e que as deles já estariam confeccionadas, fossem adotadas as medidas utilizadas por eles. Além dos desportistas baianos que já as utilizavam, os pernambucanos, sergipanos, potiguares e paraibanos também já teriam as mesas prontas. Muitas entidades teriam dificuldade em confeccionar novas mesas o que poderia ser um entrave para a aceitação da Regra Brasileira. Com a sugestão aceita pelos gaúchos, chegaram ao consenso e a regra estava criada, com o nome de “Regra Brasileira”.

“Partimos daqui para a concretização de um sonho, com a pessoa que detinha o mais alto posto da Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa, pioneira no Brasil, mas hoje, infelizmente, adormecida. Imaginávamos que traríamos alguma coisa nova, que todos poderiam usufruir e, em visita a outros estados, poderiam encontrar amigos botonistas e praticar com eles a mesma modalidade.” (Sambaquy)

A Ruptura com a FRFM

Imediatamente após sua criação a Regra Brasileira foi impressa. Ghizi e Sambaquy retornaram para o Rio Grande do Sul com vários cadernos que seriam distribuídos e estudados pelos botonistas gaúchos. No regresso a Porto Alegre, inesperadamente, Ghizi foi destituído do cargo de Presidente da FRFM que passou a ser comandada por uma equipe liderada por Lenine. Além de afastado do cargo, Ghizi foi acusado de traidor pelos membros da FRFM e não teve mais acesso ao grupo.

Lenine Macedo de Souza, fundador da
FRFM e fabricante dos botões LIONE

A única explicação que encontramos para esta atitude de Lenine e da FRFM, comandada por ele, é que as modificações propostas na nova regra associadas à dificuldade de competir comercialmente com os botões de galalite da Fábrica Scharlau podiam colocar seu negócio em risco.

Lenine, numa atitude de desespero, chegou a obrigar os técnicos das associações  filiadas à Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa, a utilizarem  50%  de botões LIONE em seus times em competições oficiais. Esta atitude abalou a relação de Lenine com a grande maioria dos botonistas filiados a FRFM. Com a sua transferência profissional para o Paraná, nos anos seguintes, a fábrica foi desativada e a FRFM teve continuidade com outros presidentes, que revogaram a cláusula absurda que obrigava a utilização dos botões LIONE.

Neste comentário do nosso amigo Clair Marques, sobre o Campeonato Estadual Gaúcho de 1967, vencido por ele em Rio Grande, podemos perceber o quanto Lenine foi impositivo em relação à utilização dos botões fabricados por ele:

“Nesse campeonato em que terminamos empatados em pontos, eu e o Ênio Voges fomos declarados campeões. Foi um campeonato estadual realizado em Rio Grande no Esporte Clube União Fabril, clube que ficava localizado em frente ao portão lateral do cemitério de Rio Grande e já não existe mais.  Eu estava na minha casa, já achando que o Lenine e os seus convidados não viriam mais, quando escutei o som de fogos de artifício. Fui olhar no portão e estavam se dirigindo para a minha casa num comboio de cinco ou seis carros e uma Kombi, com bandeiras da FRFM e cartazes alusivos ao Campeonato Estadual de Futebol de Mesa que seria disputado na cidade. Juntamos o pessoal de Rio Grande, demais convidados e começamos a disputa do estadual. A finalidade maior deste campeonato estadual descobri posteriormente, era promover os novos botões plásticos “LIONE” da fábrica do Lenine Macedo de Souza. Cada participante  do campeonato, tinha que retirar cinco dos botões de galalite do seu time e, obrigatoriamente, incluir no seu time, cinco botões da marca “LIONE”. Esse detalhe o Lenine não tinha comunicado a ninguém de Rio Grande.” (Clair Marques)

As conseqüências da ruptura

A Liga Caxiense ficou decepcionada com a atitude de Lenine e permaneceu ao lado do Ghizi para dar continuidade a implantação daquilo que havia sido determinado em Salvador.

A Liga Caxiense de Futebol de Mesa seguiu fiel ao que havia sido tratado na reunião na Bahia onde, juntamente com a FRFM, se comprometeu em difundir e adotar a Regra Brasileira. Com a deserção da FRFM a Liga Caxiense assumiu sozinha esta responsabilidade. Caxias do Sul aderiu imediatamente à Regra, passando a modificar mesas e botões. Começou o trabalho de divulgação, conseguindo êxito e introduzindo a Regra Brasileira em diversas regiões do nosso estado, até que em 1973 foi realizado o Primeiro Campeonato Estadual da Regra Brasileira, na cidade de Canguçu.

Abertura do I Campeonato Estadual Gaúcho de Futebol de Mesa na
Regra Brasileira em Canguçu, 1973

Durante o Campeonato Estadual na Regra Brasileira, em Canguçu, foi criada a União das Ligas do futebol de mesa gaúcho, que acabaria dando origem a Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, fundada em 1986.

“Quando da criação da Regra Brasileira nós pensávamos em uma unificação nacional de nosso esporte e nunca imaginávamos que o Rio Grande do Sul não abandonaria as suas origens. Todos acreditavam que poderia haver essa união, pois naquela época já tínhamos em meta o reconhecimento pelo CND de nosso esporte. Infelizmente havia o interesse comercial do senhor Lenine, que fabricava mesas e botões, goleiras e bolinhas. Acredito que isso falou mais alto e afastou muita gente do real espírito da coisa. A intenção da criação dessa regra jamais foi de destruir a Regra Gaúcha (nossa regra mãe), mas propiciar a possibilidade de novos horizontes, coisa que realmente aconteceu a partir dos anos setenta, quando começaram a ser realizados os campeonatos brasileiros da modalidade. Houve o rompimento de relações da Federação com a Liga Caxiense. Éramos personas não gratas. Ficamos alijados de suas disputas, mas seguimos a nossa ideologia e implantamos o futebol de mesa brasileiro em diversas cidades. Rio Grande, na pessoa de Clair Marques já estava unido conosco e surgia outro nome fabuloso que, transferido para Canguçu, levou o futebol de mesa para a região: Vicente Sacco Netto.” (Sambaquy)

A FRFM, que contava com diversos botonistas da elite do futmesa gaúcho, como Paulo Borges, Sergio Duro, Fausto Borges e Claudio Saraiva, permaneceu com a Regra Gaúcha, criada por Lenine, e continuou realizando seus campeonatos sem a participação dos adeptos da Regra Brasileira. Esta série de campeonatos estaduais aconteceu até o ano de 1974. Com o passar dos anos a Regra Brasileira, que mantinha articulação com os demais estados, graças ao trabalho incansável de Sambaquy, foi ganhando espaços da Regra Gaúcha provocando a dissolução natural da Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa que teve seus últimos registros oficiais no ano de 1980.

Abertura do I Campeonato Estadual Gaúcho de Futebol de Mesa na
Regra Brasileira em Canguçu, 1973

Apesar deste problema institucional, a Regra Gaúcha continuou sendo muito praticada no Rio Grande do Sul e, a partir dos anos 80, muitos botonistas criaram departamentos de futebol de mesa nos clubes de Porto Alegre, especialmente no Grêmio de Futebol Porto Alegrense e no Sport Clube Internacional.

Clair Marques, Campeão Gaúcho em 1967
na Regra Gaúcha

A Regra Brasileira evoluiu de forma espetacular em nosso país. No Sul, a partir da iniciativa de Sambaquy, foi tomando cada vez mais o espaço da Regra Gaúcha em vários municípios e, inclusive, em muitos deles a regra foi adaptada para a modalidade “Cavado”, pois na sua origem, a regra foi preconizada somente para a modalidade “Liso”.


Outros nomes também deram grande contribuição e foram fundamentais para o crescimento da Regra Brasileira no Rio Grande do Sul, entre eles lembramos: Adaljano Tadeu Cruz Barreto, Mario Ruaro De Meneghi, Oswalter Soares Borges e Walmor da Silva Medeiros (Caxias), Gilboé Lângaro Mendes (Passo Fundo), Luiz Alfredo de Boer (Rio Grande), Claudio Schemes (Porto Alegre), Audir Schelle e Luiz Henrique Roza ( Pelotas), Vicente Sacco Netto (Canguçu), Raul Machado Ferraz de Campos (Giruá) e Luiz Alberto Chiacchio (Arroio Grande).

Ângelo Slomp, Walmor Medeiros, Jorge Campagnoli, Adauto Sambaquy
e Airton Dalla Rosa no I Campeonato Brasileiro em Salvador 1970

A nível nacional, os campeonatos começaram somente com a utilização de botões lisoa. Com a adequação da regra para os cavados, especialmente nos estados centro-sulistas, os campeonatos passaram a ter nas mesas, técnicos com botões cavados jogando contra técnicos com botões lisos, dando origem ao nome de "Livre" para a categoria.


Em 1988, graças ao trabalho incansável e incessante de um grupo de abnegados, entre os quais: Antonio Maria Dellatorre, em São Paulo, Roberto Dartanhã, na Bahia, Antonio Carlos Martins no Rio de Janeiro, Claudio Schemes no Rio Grande do Sul, José Ricardo Caldas e Almeida, em Brasília, liderados pelo “Papa” do futebol de mesa brasileiro, Geraldo Décourt, o futebol de mesa é reconhecido como esporte pelo Conselho Nacional de Desportos. A partir daí o CND passa a considerar três regras oficiais de futmesa no Brasil: a Regra Brasileira Um Toque Disco, criada na Bahia em 1967, a Regra Paulista 12 Toques Esfera de Feltro e a Regra Carioca 3 Toques Esfera de Feltro. Como a Regra Gaúcha não estava vinculada a Federação Gaúcha de Futebol de Mesa e a Federação Rio-grandense havia sido extinta, a mesma não foi oficializada.

Mesmo não sendo reconhecida pelo CND a Regra Gaúcha continuou sendo bastante praticada no Rio Grande do Sul e, além da retomada dos campeonatos estaduais da regra, a partir de 1997, outros eventos significativos continuaram acontecendo pelo estado. Em 2007 foi criada a Liga Gaúcha de Futebol de Mesa que até os dias de hoje vem unindo os praticantes da Regra Gaúcha, criada por Lenine, para difundi-la e fomentar a prática do Futebol de Mesa.

Sambaquy do Rio Grande do Sul enfrentando José Inácio de Sergipe
no I Campeonato Brasileiro na Regra Brasileira em Salvador 1970

De 1970, do 1° Campeonato Brasileiro, em Salvador BA, vencido pelo baiano, que representava Sergipe, Átila de Menezes Liza, até 1990, no 18° Campeonato Brasileiro, no Rio de Janeiro, vencido pelo carioca Júlio Cesar Nogueira, as competições foram na modalidade livre. De 1991, do 19° Campeonato Brasileiro, em Vitória ES até 2011, no 38° Campeonato Brasileiro, em Recife, as competições foram divididas nas modalidades “Liso” e “Livre”.
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Especialmente no Rio Grande do Sul a modalidade “Cavados” chegou a ser predominante, mas agora a modalidade “Lisos”, que sempre manteve sua tradição em Caxias do Sul, aparece como a grande “coqueluche” em outros municípios do estado onde alguns botonistas gaúchos, como Alex Degani e Marcelo Vinhas, entre outros, reconhecidos nacionalmente por seus méritos nos cavados, aparecem com força para brigar pelos títulos contra os nordestinos, agora jogando com os lisos. 
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Com a evolução da modalidade “Liso” nos estados centro-sulistas surge a preocupação com um possível “esvaziamento” nas competições nacionais da modalidade “Livre (Cavado)” quando realizada concomitantemente com a modalidade “Liso”. Isto já pode ser observado claramente, especialmente nas duas últimas edições: em Porto Alegre 2010 e Recife 2011, quando muitos botonistas, especialmente gaúchos, tradicionalmente adeptos dos “cavados”, disputaram a modalidade “Liso’. Na última Assembléia Geral da CBFM o tema foi discutido e foi aprovada uma proposta apresentada por Daniel Maciel do Rio Grande do Sul onde os campeonatos brasileiros 2012 serão realizados em datas e locais distintos para as modalidades “Liso” e “Cavado”, em caráter experimental.

Cláudio Schemes e Sambaquy nos 70 anos do
S C Internacional em Porto Alegre
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Conclusões
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Para nós, o que fica bastante evidente com estes fatos é que, independente do juízo que possamos fazer, Lenine Macedo de Souza e Adauto Celso Sambaquy foram figuras fundamentais para que o nosso futmesa seja o esporte de alto nível que é nos dias de hoje.
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Lenine foi um idealista que fundou a primeira associação, a primeira federação do esporte no Brasil e foi um dos precursores do esporte no sul do país. Talvez se tivesse feito uma leitura diferente sobre a introdução da Regra Brasileira no Rio Grande do Sul o destino da Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa pudesse ser diferente, abraçando as duas regras. Inclusive poderia ter visto isto como uma oportunidade e não, como nos parece, uma ameaça ao seu negócio.
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Sambaquy, mais do que um idealista, foi um abnegado, nutrido pelo sonho de ver o esporte sendo praticado de forma competitiva a nível nacional, foi fiel aos seus amigos e levou em frente o projeto de unificação das regras possibilitando que o futmesa brasileiro seja um esporte de alto nível e reconhecido pelo CND. Em frente às dificuldades encontradas no retorno ao Rio Grande do Sul, juntamente com Gilberto Ghizi, foi corajoso e seguiu em frente, pois o projeto de unificação já não era mais dele ou de Ghizi, era do futmesa brasileiro. Não fosse sua atitude, como seria a evolução do nosso futmesa? Sem nenhuma sombra de dúvidas muitos contribuíram para a evolução do esporte no Brasil, mas Adauto Celso Sambaquy sempre deverá ser lembrado como um dos maiores, senão o maior nome desta história tão maravilhosa do nosso futmesa.
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Obrigado amigo Sambaquy e salve o futmesa brasileiro!


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Onde vai o Futmesa da AFUMECA?

Toda empresa moderna precisa se preocupar com a satisfação de seus colaboradores. Isto é um conceito básico para qualquer empresa preocupada com a qualidade de seus produtos e/ou serviços e consequentemente com a sua sobrevivência num mercado cada vez mais competitivo e globalizado.

Na Globoaves, em sua unidade frigorífica de Cascavel, onde o editor é o Gerente Industrial, não poderia ser diferente. Programas de qualidade, responsabilidade social, ginástica laboral, fisioterapia, assistência médica e odontológica, entre outros programas e benefícios que a empresa oferece, encontramos as atividades de recreação. A empresa colocou a disposição dos colaboradores uma sala de jogos e recentemente contratou um professor de Educação Física exclusivamente para cuidar deste assunto.


Jogo de truco, tênis de mesa, pimbolim, dominó e futebol de mesa! O que? Futebol de mesa, isso mesmo que você ouviu! na sala de jogos do Frigorífico Cascavel da Globoaves tem uma mesa de futmesa.

Professor Rodrigo dando aula de futmesa



A galera começa a se entender com os botões


Uma pausa para ensinar a regra




Além do editor Rangel, a empresa conta com outros botonistas como nosso multi-campeão Victor Mecking, os jovens Clodimar e Rafael que já mostraram a cara aqui no blog, e agora o professor Rodrigo que veio do lá do SESC, nosso parceiro, fazer parte do time da Globoaves. Todos da Globoaves, todos da AFUMECA, todos do futmesa.

Aqui Rodrigo recebe ajuda do companheiro de AFUMECA Clodimar
Salve o futmesa!