Décourt por Décourt
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Geraldo Cardoso Décourt, "O Papa do futmesa brasileiro" |
Hoje, dando continuidade a nossas
publicações nos “Arquivos do Futmesa Brasileiro”, diretamente do acervo de
Adauto Sambaquy, queremos apresentar uma autobiografia de Décourt onde ele nos
revela um pouco mais sobre sua belíssima história.
Este documento, uma breve autobiografia, foi escrito por Décourt a pedido de seu amigo Pedro Luiz Junqueira, editor do informativo botonístico: “Técnicos e Botões” da
Associação Galáxia Petlem da cidade de São Paulo. O texto aqui transcrito não sofreu nenhuma correção, ou seja, é o original, literalmente escrito por Décourt:
Honra-me ainda uma vez, o caro irmão Pedro Luiz com o gentil
convite de historias nesta página – onde vários colegas já o fizeram com a
humildade dos autênticos botonistas – um pouco do que tenho feito pelo Futebol
de Botões, ex-Celotex, futebol em miniatura, hoje popularizado em definitivo
como Futebol de Mesa. Antes de penetrar na “área” do roteiro habitual seguida
nesta página de honra (biografia) desejo agradecer a deferência que me está
sendo concedida, bem como todas as referências já feitas a minha pessoa no T
& B extensiva aos bondosos irmãos já entrevistados!
Nascido em 14/02/1911, por mercê de Deus, em
Campinas, mudei-me para o Rio de Janeiro com dois anos onde, em 1922, fiquei
conhecendo Higino Mangini e seu irmão Francisco, que me ensinaram o futebol de
botões, tendo jogado pela primeira vez, na escadaria da Rua Visconde de
Paranaguá, onde eu morava no nº 40 antes de possuir minha primeira mesa
envernizada e fizemos os primeiros campeonatos em 1922 com Mario Salorenzo,
José da Silva, Rudolf Langer (que deve ter levado o futebol de botões para a
Áustria), Oscar Vieira e Jaime Ferraz. Higino Mangini faleceu por volta de 1927
e foi o meu mestre. Até hoje já dei o seu nome numa merecida homenagem por duas
vezes: uma em Porto Alegre por volta de 1946, promovendo um Campeonato Aberto
com a cobertura da Folha da Tarde (inscreveram-se cerca de 400 botonistas) e
agora na AREA com a vitória de Hideo Ue Fº, no primeiro torneio interno de três
toques promovido pelo Grêmio de Flávio Ferraz. No mesmo torneio de Porto
Alegre, homenageei com um troféu para o vice, meu ex-colega de Rio de Janeiro,
Carlos Hélio Portugal da Cunha, por volta de 1930, já na época do Celotex (com
bola esférica) no campo dos irmãos Soares da Rocha, onde Portugal da Cunha
jogando com perfeição e lealdade impediu-me de ser tri-campeão carioca,
vencendo-me de uns 3 a 1, se não me falha a memória! Boa época aquela!
Décourt com o grande companheiro Della Torre |
Nesta minha passagem pela vida (que espero que não seja a
última) morei no Rio uns 30 anos, 5 no Rio Grande do Sul, casei-me em 1947 em
Vitória (ES), onde já joguei diversas vezes em épocas de férias, estou
novamente em São Paulo desde 1948.
Fiz parte da extinta Federação Paulista de Futebol de Mesa,
quando presidente, meu amigo Decio Zuccaro, jogando no Grêmio Dramático
Luzo-Brasileiro, em 1964, quando conheci Luiz Gonçalves da Silva, Flávio S.
Ferraz e Roberto Milagres (estes dois últimos hoje na AREA) onde conheci
também, Newton de Andrade (que joga com argolas) e Carlos Casal Del Rey (que
tinha seus estádios com 4 refletores)! Enfim, difícil relembrar tanta coisa de
tanta gente!...
Quero
deixar bem claro que embora fizesse sozinho por volta de 1930 toda à cobertura
jornalística em jornais como O Globo, A Batalha, Imparcial, A Noite, A Ordem,
Diário de Noticias, Rio Sportivo, A Nação, e Revistas “Suplemente Esportivo de
A Noite e o Cruzeiro” (na época da rotogravura) e A Gazeta daqui de São Paulo
que ainda não tinha a Gazeta Esportiva, tive a honra de ser amigo de Thomaz
Mazzoni e José de Moura, que nunca recusaram notícias de futebol Celotex e de
vez em quando publicavam caricaturas minhas assinadas por Truoced (Décourt ao
contrário) e na época de doença (tuberculose) que matou o meia Tatú, do
Corinthians e Campeão Sul Americano de 1922 pelo Brasil, doei para uma campanha
em seu benefício cem (100) exemplares de minhas regras!... Bem, queria dizer
que NUNCA disse a quem quer que seja (em qualquer época) ter sido o inventor do
futebol de botões, mas sim, autor da primeira Regra Impressa como CELOTEX e
também nunca promovi Campeonato Sul Americano de Futebol de Botões...
Décourt com o amigo José Ricardo de Brasília |
Em 1930, joguei sim uma partida com A. Santasusagna, uruguaio
que me desafiou pela imprensa e consegui vencê-lo por 2 x 0. Este uruguaio
ficou no Rio, montou um jornal que se chamava O FOOT-BALL, era vendido aos
domingos à noite, tinha uma parte impressa e quatro colunas mimeografadas com
os resultados dos jogos de futebol efetuados à tarde. Santasusagna depois vingou sua derrota num campeonato carioca,
vencendo-me por 2 x 1, com duas bolas no cantinho do meu goleiro, daquelas que
ultrapassam a linha de goal e param! Ainda estou vendo nitidamente na lembrança
essas bolinhas (já esféricas) lá paradas!...
Recentemente
tive duas gratas alegrias: visitando Santos e companhia de Hideo Ue Filho e
Eliahou Vidal, por volta de Março ou Abril, conheci um senhor chamado Jurandir
da Silva Marques, hoje com os seus 70 e tantos anos, que fez pequeno comício a
respeito do que eu fui e fazia naquela época, citando clubes e locais onde me
vira jogar, citando nomes de companheiros daquela época e etc. e agora me
escreve do Rio, o irmão daquilo que resolvi denominar CONFRATERNARIA
BOTONÍSTICA, senhor Getúlio Reis de Faria, diretor administrativo da Liga
Carioca de Futebol de Mesa, está com 65 anos, com as mãos talvez menos trêmulas
que as minhas e me relembra de minhas atividades de 1930 citando endereços
completos dos locais onde joguei e com quem joguei. Comprou a minha regra
IMPRESSA em uma banca de jornais do seu bairro que tentaram as traças e
precisam ser substituídas! Com a minha sensibilidade de artista plástico não
pude deixar de comover-me e... (pois é, homem também chora, sim senhor!...).
Quero conhecê-lo! Já vivi momentos de emoção assim, com menos idade! Suportei
bem! Certa vez, em Vitória (ES) quando em trabalho de seguros, fui apresentado
por volta de 1942 a dois senhores que ao ouvirem o meu nome, indagaram se eu
era aquele que em 1930 fora jogar futebol celotex em Niterói. Sim, respondi,
como vocês lembram? Eram eles, Roberto Saleto e Gil Veloso (este último foi
Deputado Federal pelo Espírito Santo, tendo falecido há poucos anos) e fiquei
amigo de ambos, pois contaram-me que um irmão de Gil que era torcedor do Vasco
da Gama do Rio, foi assistir a inauguração do estádio de São Januário e
enquanto isso Veloso e Roberto Saleto foram me ver jogar botões em Niterói! E
então, gente tenho ou não razões para me orgulhar de tanto que já fiz pelo
futebol de mesa?
Décourt com os amigos no Botunice, clube que criou |
Com Manezinho Araújo, hoje grande artista plástico, ex-cantor
de emboladas, ex-proprietário dos restaurantes “Cabeça Chata” no Rio e em São
Paulo, tivemos um papo curioso no Bar da Brahma, no Largo da Carioca, no Rio,
por volta de 1935, quando saímos de um programa de Cesar Ladeira, na Rádio
Mayrink Veiga. Ele cantava e compunha emboladas. Eu cantava e compunha
sambas. Perguntou-me ele: você era aquele Geraldo Décourt do Futebol Celotex,
que tinha na Liga Pernambucana, na parede um retrato seu, uma foto recebendo um
troféu e outra de sua linha atacante? Você conheceu Jota Soares, cineasta de
Recife, presidente da Liga? – Sim, Manezinho. Não era não, SOU EU MESMO!... E
então, gente?
Sim gente! Está chegando a minha HORA DE PARAR! O que FIZ,
VALEU A PENA, pena por pena, devo parar brevemente, antes que os que olham para
as minhas trêmulas com uma curiosidade imprópria de verdadeiros esportistas,
venham a sentir PENA DE MIM ou julguem que sou um ridículo e teimoso botonista!
Quero PARAR SIM! Mas, antes vou me despedir aos poucos,
jogando como comecei, sozinho contra equipes ou grupos daqueles que ainda me
respeitam como ser humano! Enfim, uma despedida lenta, mas honrada pela estima
de meus atuais amigos! Minha despedida não será comparada com as de Silvio Caldas,
meu amigo, pois será feita “lentamente”! Acabar como COMECEI como será isso?
Vou explicar: Em 1930 quando fui a Niterói, enfrentei sozinho
a equipe Liga Niteroiense de Futebol de Mesa, em forma de competição. Cada
vitória marcava dois pontos e empate um ponto para cada lado. Quero me despedir
sem esta fobia de contagem de pontos, mas enfrentando cada botonista em 5
minutos e abraçá-lo depois, para fazer o mesmo com o “próximo”.
Décourt batendo uma bolinha |
Essa
idéia não nasceu hoje, mas vem sendo amadurecida vivamente. Pretendi encerrar
minha participação em Santos, entregando a minha camisa ao bom amigo José
Francisco ferreira, meu último adversário em partida oficial, exatamente quando
participava pela primeira e ultima vez das Integrações! Sentado num canto
durante aquela competição, contive-me e achei o momento impróprio, pois não
queria ser tomado por demagogo, erradamente! Conversando não sei com quem,
sobre a minha estada no Rio, no Congresso. Lembrei-me do convite
respeitosamente carinhoso e efetivo do Sérgio Netto, que me propôs jogasse com
ele e o pessoal de Brasília, nem que fosse cinco minutos, sem contagem, apenas
para sentirem o orgulho de terem jogado comigo! Não topei de pronto, pois
estava em terra alheia!
Décourt e Della Torre com amigos no Botunice |
Agora, sentindo-me cansado de tanta luta e sentindo a
impropriedade de minha continuação e por que não dizer, sentindo que os tempos
mudaram, estou decididamente desejoso de PARAR! Preciso pensar em termos
definitivos em duas coisas: - Manter o meu BOTUNICE INFORMA (vejam bem, não é
BOTUNICE EM FORMA pois ele está crescendo mais rapidamente que previa),
refiro-me ao Tablóide Informativo, oneroso para ser mantido, e ou, prosseguir
na idéia do meu livro "DEPOIMENTOS” (nome provisório), também de certo
custo!
Acontece, porém, que olhando para muito atrás, constato que
todas as dificuldades encontradas na trajetória já percorrida, venci grandes
PARADAS (mais fora do que dentro das mesas), PAREI diversas vezes sem ter que
pensar como AGORA, QUANDO ALIMENTO A ESPERANÇA DE parar de vez! O problema é que quando a gente tem apenas
alguns poucos AMIGOS a nossa volta, uma decisão de parar é tomada mais
facilmente.
Quando
iniciei essa série biográfica, que foi dividida por Pedro Luiz em partes,
estávamos em princípios de agosto e... De lá para cá, muitas coisas
aconteceram. O BOTUNICE INFORMA foi levando para mais longe, minhas idéias
expostas detalhadamente e essa minha forma de ser, como homem de comunicação
que SOU por lutar para CONSEGUIR SER, usando de franqueza e sinceridade,
respeitosa e cuidadosamente, acolhedor, sorrindo quando posso e “brigão” (no
bom sentido) quando necessário for, defensor zeloso da justiça, “catimbeiro”
(por que não?) diante de certos “complicados” e “difíceis” colegas de metier
(como os há em toda parte), passando de “Corujão 79” para “Raposão em 80”
(apelido que me foi dado pelo meu amigo “Mingão”) e como “Bom Velhinho” como me
consideram muitos e me “esclarece” o Atienza ser de forma carinhosa, enfim, por
tudo isso, meu micromundo botonista vai por mercê de Deus agüentando a cada dia
que passa, ampliando na mesma proporção minha dificuldade para programar a
minha “retirada estratégica” conforme mencionei anteriormente!
Décourt entre os amigos Sambaquy e Pedro Luiz Junqueira no II Torneio Pletem em 1981 |
PARADA DURA, ESSA MINHA NECESSIDADE DE PAPAR! No
duro, no duro que não é fácil, não! Parece-me até que o Pedro Luiz, como amigo
meu que é, me deu “corda” para que eu evoluísse em meus planos, usando de uma
estratégia habilidosa e colocando-me frente a Frente Comigo Mesmo, pudesse
sentir melhor sozinho que esta minha idéia de PARAR é... Uma “PARADA”! Bem,
parar de jogar eu já estou parando (EMBORA ME MORDENDO DE VONTADE DE JOGAR...).
Vamos combinar uma coisa: Vou PARAR DE FALAR NISSO AGORA por três razões
principais: 1º - Meu encontro de “ouro” com Getúlio Reis de Faria, no Rio de
Janeiro; 2º - Meu clube e meu jornal e... 3º - a formação de um clube, o UNIBOP
– União de Botonistas Paulistas, que será formado logo que eu regresse do Rio
de Janeiro, congregando um grupo de botonistas espalhados pelos diversos
bairros de São Paulo, que lendo uma “mini-reportagem” inserida nos últimos dias
nos jornais “SHOPPING NEWS, CITY NEWS e JORNAL DA SEMANA” entraram em contato
comigo por telefone e pela “fome de bola” de todos e não havendo “vagas” no
BOTUNICE que joga às 5ª feiras à noite, alugarei as 6ª feiras no mesmo local da
AREA, para podermos nos organizar! Que DEUS NOS AJUDE.
Filhas de Décourt recebendo homenagem dos 100 anos de seu nascimento, ano passado |
Confiram aqui no blog
matéria: 100 Anos de Décourt no link:
http://afumeca.blogspot.com/2011/01/100-anos-de-decourt.html
http://afumeca.blogspot.com/2011/01/100-anos-de-decourt.html
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